Após 7 dias
balançando em alto mar e mais um final de semana com labirintite, estamos de
volta! Resolvi começar o relato sobre o cruzeiro apontando algumas questões que
sempre me encucaram quando pensava em viagens de navio. Não que eu tenha a
resposta para todas elas, afinal um único cruzeiro não resume todas as
possibilidades dessa modalidade de viagem, mas já dá pra ter uma idéia sobre
algumas coisas.
1. Navio grande não balança.
Mentira
deslavada. Essa é uma das, senão A grande questão que sempre me encafifou em se
tratando de cruzeiros. Como dito antes, eu sinto enjôo com muita facilidade e
ficava apavorada pensando na possibilidade de passar mal durante a viagem. Ao
embarcar fiquei aliviada, pois de fato não sentia nenhum movimento. Lá pelas
tantas, percebemos que estávamos nos afastando do porto e subimos para ver a
partida do deck superior. Nisso eu já estava eufórica, pois o barco estava em
movimento e o balanço era quase imperceptível. A euforia durou até o momento em
que entramos em alto mar. Aí a vaca foi pro brejo. Porque a coisa toda
balançava sim, e MUITO. O primeiro jantar foi permeado por exclamações do tipo “mas
pqp, esse negócio balança pra caraaaaaaamba”. No final das contas as pessoas se
acostumam e o balanço deixa de ser incômodo. Eu, que esperava tomar mais de 20
dramins em uma semana, tomei uns 4. E isso num dia de mar muito agitado. Ou seja:
balançar, balança. Mas não é nada que incomode a ponto de atrapalhar a viagem.
|
Eu, me achando "a desbravadora dos mares" durante a partida.
|
2. Em cruzeiro se come muito.
Isso é
verdade, só que em termos. Porque, por mais que haja comida disponível o dia
inteirinho, não há ninguém te obrigando a comer nada. A coisa toda funciona
basicamente assim: você toma café da manhã (que é cheio de opções). Aí durante
o dia todo você tem várias opções de salada e pratos quentes e doces no buffet.
No nosso cruzeiro ainda havia o buffet-evil: pizza, cachorro quente, hambúrguer
e batata frita. Tudo ali pertinho da piscina interna (onde passávamos grande
parte das manhãs). E sorvete de
casquinha (com filas maiores que o INSS). Aí ainda dava pra almoçar no
restaurante a la carte bacaninha. E à noite ainda tinha o jantar “chique”, com
entradas e pratos principais e trajes pré-definidos (formal, passeio, esporte,
etc). E tudo isso incluído no preço do cruzeiro, só se paga à parte as bebidas
alcólicas. Ainda havia um café tipo Starbucks e uma sorveteria Ben & Jerry’s,
ambos pagos à parte (mas não eram caros). Então víamos pessoas se entupindo de
comida literalmente o tempo todo. É claro que ninguém resistiu e aqui em casa
cada um voltou com um quilo a mais apontando na balança. Mas que poderiam ter
sido facilmente 3 ou 4, caso não tivéssemos nos controlado.
|
E daí que eu acabei de almoçar? Toda hora é hora de Irish Coffee. |
3. Cruzeiro é uma ótima forma de conhecer lugares diferentes gastando pouco.
Imagino que
isso até possa ser verdade, se estivermos falando de cruzeiros pelo Caribe, por
exemplo. Pois é uma forma de conhecer várias ilhas e praias específicas que
jamais visitaríamos de outra forma. Agora, no caso da costa brasileira ou dos
portos principais da América do Sul, considero mentira. E isso ficou muito
claro pra mim nessa viagem. Teríamos 3 portos de desembarque: Montevidéu, Punta
del Este e Santos. Gustavo e eu conhecíamos Montevidéu de outra viagem, e
adoramos a capital uruguaia. Mas a escala na cidade foi uma decepção. Isso por
dois motivos: não só porque é absolutamente impossível conhecer o principal de
uma cidade em poucas horas, como também porque a Montevidéu do verão é
completamente diferente da cidade que conheci durante o inverno de 2011 (depois
escrevo um post cheio de motivos para se visitar o Uruguai durante o inverno).
Conversei com alguns passageiros do nosso navio e todos detestaram a escala,
afinal comeram mal no Mercado do Porto e se limitaram às
lojinhas-para-turista-ver da região. Mesmo em nosso grupo o pessoal não se
empolgou, e com razão. A escala em Punta não aconteceu, porque o mar estava
muito agitado, o que impossibilitou a utilização das lanchas para levar os
passageiros ao porto (em Punta o navio não atraca no porto, fica ancorado à
distância). E, no dia em que atracamos em Santos, chovia canivete. Faltava só
um dia pra chegarmos em casa e estávamos cansados, acabamos não desembarcando.
Conclusão: o cruzeiro valeu pelo navio e pelas experiências a bordo, as escalas
não fizeram a menor diferença. Com exceção de uma degustação que fizemos numa
vinícula próxima a Montevidéu, todas as saídas do barco seriam absolutamente
dispensáveis.
|
Espumante às 10 da manhã? Nas férias pode! (vamos fingir que só fazemos isso nas férias, ok?) |
4. É impossível ficar entediado em um
cruzeiro.
Acho que
isso depende muito. Depende do perfil do cruzeiro que você escolhe, depende da
companhia do cruzeiro e, principalmente, depende do modo como você encara uma viagem
desse tipo. Eu diria que a maior parte das atividades que acontecem em um
cruzeiro são do tipo gregárias, partem do pressuposto que as pessoas estão ali
para fazer amigos, fazer festa, “badalar”, “causar”. Então era um tal de aula
de axé, aula de capoeira, basquete na piscina, gincanas... ou seja, se você não
é do tipo que está disposto a dançar a macarena pra ganhar pontos extras num
jogo tipo quiz, vai se sentir deslocado. Também havia muitas atividades para os
atletas de plantão. Academia bem equipada, Spa, pista de cooper, aulas de
ginástica e palestras sobre alimentação saudável (ao lado do buffet de
hambúrguer e batata frita, todo um contra-senso). Como meu conceito de férias
não envolve nem ouvir axé e nem fazer aula de aeróbica (hein?), admito que
houve momentos do tipo “nhé, nem tem nada pra fazer agora”. Mas sou da opinião
que se te dão um limão, basta fazer uma caipirinha. Descobrimos o salão de
jogos e jogávamos baralho e Scrabble quase todos os dias. A piscina coberta era
mais tranquila e ficávamos bastante tempo lá. Havia o casino, que ocupava parte
das nossas noites. Teve um dia em que a banda principal tocou Beatles. E sempre
tinha um trio de jazz bacana tocando num dos bares. E tomamos váários drinques
gostosos e cerveja Blue Moon (que caçamos no navio inteiro até encontrar as
últimas garrafas, no teatro). Enfim, nós dois nos divertimos bastante à nossa
maneira, e cada integrante do nosso grupo fez o mesmo. Aí se tem uma grande vantagem
do cruzeiro: é um tipo de viagem no qual é possível agradar a várias pessoas de
gostos diferentes ao mesmo tempo (mas que eu senti falta de ouvir um rockzinho, senti).
|
Não existe tédio quando existe drinque do dia. |
Por fim,
uma coisa que eu não tinha ouvido falar, mas que não posso deixar passar em
branco: a extrema simpatia e dedicação de todos os funcionários que trabalham
no navio. Não sei se é uma coisa da Royal Caribbean, não sei se nosso grupo
específico teve sorte. Só sei que nunca fui tão bem atendida e tão bem tratada!
Um exemplo disso é que o chefe dos garçons, ao ver que eram poucas as opções
para vegetarianos no cardápio do jantar, simplesmente passou a encomendar pratos
especiais para mim, todos os dias. Quando descobriu que eu gostava de comida
indiana então (ele era indiano), jesus! Todo dia era um tal de curry de
couve-flor, vegetais massala, cada coisa mais deliciosa que a outra. E se
atleta-de-cruzeiro é uma categoria comum entre passageiros de navios, o Gustavo
inventou o vegetariano-de-cruzeiro: comeu comida indiana-vegetariana todos os
dias. Quem sabe não foi um sinal?
|
Suzana, nossa camareira, era super prendada. Achei o cachorrinho uma graça! |