quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Das maravilhas de Montevidéu

Gustavo e eu passamos uma semana no Uruguai em julho de 2011. Foram 3 dias em Montevidéu e outros 3 dias em Colonia del Sacramento, lugar geralmente associado a Buenos Aires, pois é comum pegar o buquebus e fazer um bate e volta a partir da capital portenha. Falaremos de Colonia e da minha vontade de morar lá até o fim dos dias em outra ocasião, hoje é dia de falar de Montevidéu. 

Tudo o que eu havia lido antes de ir a Montevidéu, relacionava a cidade ao verão. As praias à beira do Rio da Prata, as ramblas lotadas à calçadão de copacabana, as boates. De fato, no inverno praticamente não há turistas em Montevidéu, a cidade fica vazia até de uruguaios (diferente dos portenhos, me pareceu que os montevideanos não curtem o frio). E talvez por isso a cidade me encantou tanto, pois parecia vazia de espetáculo e de coisa-pra-gringo-ver. A minha Montevidéu é nua e verdadeira, cheia de vinhos, uvitas, picadas, chivitos, praças, ventos gelados, dias ensolarados e gente tomando mate até no ônibus.

Vamos começar pelo Mercado do Porto. Quanta decepção ver o Mercado no verão. Comida ruim, mal feita e cara, restaurantes lotados, calor insuportável. Tão diferente do que eu tinha visto no inverno. Na minha Montevidéu o mercado é bem mais vazio, a gritaria é controlada e é possível tomar uma Patricia gelada no balcão, conversando calmamente com o dono do restaurante. O mesmo dono de restaurante que não conseguia atender às mesas durante o verão, no inverno nos fez recomendações, bateu papo e nos serviu uma parrillada vegetariana maravilhosa. 

No inverno, caminhar pela Ciudad Vieja também não é o melhor dos programas, admito. Mas é melhor do que no verão, sem dúvida. Não tem aquele monte de gente vendendo quinquilharia esperando o próximo turista bobo. Tem a feirinha de antiguidades da Plaza Constituición, tem as lojinhas do Peatonal Sarandí. Tem os cafés cheios de gente tomando um submarino pra espantar o frio. E, apesar da conservação dos edifícios ser horrível (faz a gente até simpatizar mais com o IPHAN), tem coisas bonitas, como o Cabildo, a Catedral, os prédios em torno da Plaza Zabala... mais pra frente tem o Palacio Salvo (prédio de estilo duvidoso que durante anos foi o mais alto da América do Sul) e o Mausoléu do General Artigas (bem bonito, mais bacana que o Memorial JK, ouso dizer). Se Buenos Aires tem a famosa livraria El Ateneo, que fica dentro de um antigo teatro, Montevidéu não fica atrás. Lá tem a Librería Puro Verso, num edifício lindo construído em 1917.   
Plaza Zabala
Librería Puro Verso
Puerta de la Ciudadela
Palacio Salvo, visto da Plaza Independencia

 Na minha Montevidéu também tem o Baar Fun Fun, claro. Só que com poucos turistas e muitos locais. Tem uma família enorme de brasileiros simpáticos comemorando alguma coisa (os únicos brasileiros que encontramos durante toda a viagem). Tem também uma senhora que passou há muito dos seus 80 anos, esperando a banda começar a tocar, enquanto toma Uvitas (sei lá como explicar o que é uvita, sei que é tipo um shot e que é bom). Isso, aliás, é uma particularidade bacana do Fun Fun. Como a casa tem mais de 100 anos, as gerações se encontram e se entendem. A senhora bateu papo conosco e ainda reclamou que estávamos indo embora cedo demais (a prova cabal de que velhice nada tem a ver com idade). Lá também tem umas tábuas de petiscos (picadas) ótimas e estranhíssimas: a que pedimos combinava ravióli com queijo ralado por cima + rolinho primavera com molho shoyo.  
Gustavo, uvita e a senhorinha nossa amiga ao fundo

Picada e uvitas
Tem os bairros bacanas também. As casas "chiques" ficam no bairro Carrasco, próximo ao aeroporto (e longe da cidade). Mas os bairros de Pocitos e Punta Carretas são charmosos, cheios de bons restaurantes, ruas bonitas e pequenos parques, onde sempre tem uma feirinha acontecendo. A feirinha do Parque Biarritz é bacana, tem produtos locais bonitos, bancas de comida. E dá-lhe garrafinha de mate pendurada embaixo do braço! E tem famílias inteiras passeando encasacadas, tem quadra de tênis no meio do parque e as pessoas ficam assistindo ao jogo dos outros. Tem um monte de cachorro com dono, e eu fiz amizade com um vira lata branco que, apesar de ter o rosto meio deformado (parecia ter sofrido um acidente) era simpático e ostentava uma coleira azul enorme, o que provava que ele tinha um dono pra chamar de seu. 



Passeando em Pocitos
Para os consumistas de plantão, tem boas lojas. Não é aquela pseuso-miami que chamamos de Buenos Aires, mas é bem mais legal. Tem lojas femininas como a Lemon, que a minha irmã me apresentou e que eu adoro. Tem lojinha chinfrim, como a Tiendas Montevideo, onde é possível comprar coisas baratas para a casa e... roupas de dormir (pijamas, camisolas, roupões... coisas de boa qualidade e ridiculamente baratas). Vale a pena descobrir as marcas locais - e dá um certo prazer saber que a blusa que custa 600 pesos vale cerca de 55 reais... 


Enfim, por esses e outros motivos Montevidéu conquistou meu coração. Vejo as pessoas felizes e contentes indo passear em Buenos Aires e entendo o porquê. Os argentinos são melhores de marketing, sem dúvida (basta lembrar que o estádio do Boca Juniors conta com um museu cheio de salamaleques e o estádio Centenário em Montevidéu não conta nem com arquibancada direito). Mas talvez a graça esteja justamente aí. Montevidéu não é cidade turística, é cidade. E ponto. 

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